Em 2013, cada segundo de espaço na programação custou 125 000 dólares, de longe o valor mais alto da televisão mundial. Neste ano, um dos comerciais que mais chamaram a atenção foi o da coreana Samsung. A empresa investiu 15 milhões de dólares em um filme que durou 2 minutos, o mais longo deste ano. “Sem entrar no mérito do conteúdo, quando uma empresa usa 2 minutos de comercial no Super Bowl, ela mostra, já de saída, que pode fazer frente a qualquer companhia”, diz John Quelch, professor de marketing da Universidade Harvard.
A grande jogada da empresa não foi um lance isolado. É o resultado de uma estratégia agressiva de marketing que a Samsung vem adotando nos últimos anos, depois de décadas de uma postura mais tímida. Seus gastos com anúncios publicitários em 2012 totalizaram 4 bilhões de dólares, disparado o maior entre as grandes empresas de tecnologia.
A Samsung também tem investido em estandes gigantescos nas grandes feiras de tecnologia, como a Consumer Electronics Show, em Las Vegas, e a Mobile World Congress, em Barcelona. Estima-se que a verba global com marketing e promoções chegue próximo a 12 bilhões de dólares. O número supera o investimento que a Samsung faz em pesquisa e desenvolvimento — cerca de 9 bilhões de dólares anuais.
Além de reforçar sua imagem em robustas campanhas na mídia impressa e na TV, a Samsung tem se destacado nos “anúncios virais” — propagandas criadas para a internet que, se bem executadas, passam a ser compartilhadas freneticamente por usuários de redes sociais. O mote da coreana é alfinetar os produtos de sua principal concorrente, a Apple. Curiosamente, essa é a mesma estratégia que a Apple adotou na década de 90 para fazer frente à Microsoft, sua rival histórica.
Um vídeo feito pela Samsung em 2011 ridicularizava os fãs da Apple, que passavam dias na fila para comprar um iPhone. Em setembro do ano passado, a Samsung voltou à carga. Escolheu o dia do início das vendas do iPhone 5 para lançar um vídeo com ironias sobre o aparelho. O objetivo era dizer que as grandes novidades do smartphone da Apple já estavam presentes na linha Galaxy, da Samsung. O anúncio foi assistido mais de 120 milhões de vezes no YouTube e tornou-se a quarta propaganda online com maior audiência em 2012.
“A empresa passou a usar um toque de humor, mais criativo nas propagandas”, diz o diretor do curso de pós-graduação em marketing da ESPM, Edson Crescitelli. “Isso mostra que os coreanos se sentem no mesmo páreo de sua maior concorrente.” Não por coincidência, a Samsung tornou-se em 2012 a empresa de tecnologia com o maior faturamento do mundo (a Apple continua sendo a maior em valor de mercado). De quebra, ainda roubou do iPhone a liderança do mercado. O sucesso da estratégia foi tão grande que o assédio a seus executivos aumentou. O Google é uma das empresas que conseguiram atrair profissionais da área de marketing da fabricante de eletrônicos.
Os rankings globais de marcas mais valiosas mostram que a Samsung,
apesar das recentes conquistas, ainda tem muito chão pela frente. Na
lista organizada pela consultoria americana Interbrands, os coreanos
aparecem em nono lugar em termos de valor de marca, sete posições atrás
da Apple, que só perde para a Coca-Cola. Mesmo com todo o investimento
em tecnologia, a Samsung sofre com a fama de copiadora.
É comum ouvir que seus produtos são avançados, mas não inovadores. A
Sony inventou o walkman. A Apple transformou o segmento de smartphones
com o iPhone e criou o mercado de tablets. Qual é a invenção
revolucionária da Samsung? Há também uma desvantagem na liderança. A
Apple conta com o trunfo de ter sua imagem atrelada à de Steve Jobs,
morto em 2011.
À frente da Samsung está o nada carismático Lee Kun-hee, um senhor de mais de 70 anos famoso por ter sido condenado na Coreia pelo crime de evasão fiscal. O fato de ter escapado da prisão graças a um perdão presidencial não ajudou a melhorar sua imagem. Ou seja, falta muito para a Samsung passar a Apple no imaginário do consumidor. Mas é bom não subestimar a vontade dos coreanos de derrubar a Apple do pedestal. Ao contrário do Super Bowl, essa partida está apenas no começo.
À frente da Samsung está o nada carismático Lee Kun-hee, um senhor de mais de 70 anos famoso por ter sido condenado na Coreia pelo crime de evasão fiscal. O fato de ter escapado da prisão graças a um perdão presidencial não ajudou a melhorar sua imagem. Ou seja, falta muito para a Samsung passar a Apple no imaginário do consumidor. Mas é bom não subestimar a vontade dos coreanos de derrubar a Apple do pedestal. Ao contrário do Super Bowl, essa partida está apenas no começo.
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