sábado, 25 de fevereiro de 2012

"O Artista" domina "Oscar do cinema independente"

 

"O Artista" confirmou o favoritismo imbatível desta temporada de prêmios e ganhou nas principais categorias do Spirit Awards, considerado o Oscar do cinema independente, nesta tarde de sábado em Santa Mônica, praia de Los Angeles.

O longa-metragem francês rodado nos EUA, que é mudo e todo em preto e branco, ficou com o troféu de melhor filme, direção (Michel Hazanavicius), fotografia (Guillaume Schiffman) e ator (Jean Dujardin, que não estava presente).

Outros favoritos do Oscar também receberam prêmios: o prêmio de melhor roteiro foi para "Os Descendentes" (bateu "O Artista"), o de filme estrangeiro para "A Separação" e Christopher Plummer ganhou como ator coadjuvante por "Toda Forma de Amor".

Shailene Woodley, 20, ganhou de Jessica Chastain ("O Abrigo", concorrente do Oscar) e Anjelica Huston ("50%") na categoria atriz coadjuvante pelo papel de filha rebelde de George Clooney em "Os Descendentes".

"Sete Dias com Marilyn" valeu prêmio de melhor atriz para Michelle Williams, que disputa o Oscar amanhã.

Na categoria documentário, venceu "The Interrupters", de Steve James, sobre violência em Chicago.

Ao contrário do Oscar, o Spirit Awards tem as categorias melhor primeiro filme e roteiro de estreia: "Margin Call - O Dia Antes do Fim" e "50%" ganharam, respectivamente.

O troféu John Cassavetes, para trabalhos feitos com menos de US$ 500 mil, ficou com "Pariah".

O comediante Seth Rogen foi o apresentador da noite, com piadas arriscadas, mas que rederam boas risadas da plateia. "'Drive' faz com que os judeus pareçam tão assustadores que eu pensei que Mel Gibson tivesse dirigido", disse o ator.

Ele também atua num dos filmes indicados ao Spirit Awards, "50%", sobre um jovem com câncer. O longa levou prêmio de melhor roteiro de estreia para Will Reiser, que escreveu baseado em sua história pessoal.

O Spirit Awards foi criado em 1984 e é considerado o Oscar do cinema independente por premiar filmes americanos, ou sobre a cultura americana, feitos com menos de US$ 20 milhões (cerca de R$ 36 milhões). Em 2011, "Cisne Negro" foi o grande vencedor, com os prêmios de melhor filme, diretor, fotografia e atriz para Natalie Portman.

Divulgação

"O Artista" (foto) foi o grande vencedor do Spirit Awards, Oscar do cinema independente norte-americano

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

O desafio da inovação

 

O crescimento do desemprego e a disparidade de renda abalaram democracias em todo o mundo ocidental no ano passado. O desemprego entre os jovens, em particular, foi persistente e abrangente --os Estados Unidos tiveram o maior desemprego de jovens em 2011, e ele alcançou 45% na Espanha. A criação de empregos sofreu não apenas por causa do excesso de dívida. Economias avançadas viram uma maciça erosão na manufatura, e as novas empresas se concentraram demais em promover o consumo.

As companhias de internet brotaram no Vale do Silício graças ao baixo custo e à facilidade de criar produtos para a web. Elas conseguem ter uma escala global enquanto mantêm uma folha de funcionários relativamente baixa. O ano de 2011 foi um marco para as empresas da internet, e várias novatas abriram seu capital, levantando mais de US$ 3,5 bilhões no melhor ano de ofertas públicas iniciais desde 2000. Entre elas, LinkedIn, Zynga, Groupon e Renren, uma rede social chinesa. E o Facebook recentemente protocolou uma oferta inicial de ações no montante de US$ 5 bilhões.

No entanto, essas empresas prosperam incentivando o consumo, seja através de jogos, de redes sociais ou de compras em grupo com desconto.

Em comparação, os setores tecnológicos voltados para a produção em tratamentos de saúde, materiais avançados e energia tiveram sucesso limitado nos EUA. A maioria dos investimentos em tecnologia limpa absorveu capital e ainda não deu retornos aos investidores. Muitos que conseguiram crescer ainda não são muito rentáveis. O sucesso das novas empresas da internet voltadas para o consumo deixou para trás os investimentos em produção.

Ruth Fremson/The New York Times

Jornalistas falam em Nova Déli; em alguns países, os celulares tornaram a falta de telefones fixos irrelevante

Jornalistas falam em Nova Déli; em alguns países, os celulares tornaram a falta de telefones fixos irrelevante

É a tecnologia que garante um crescimento equitativo. Pense nos telefones celulares: existem mais de 5 bilhões de usuários em todo o mundo.

Seria possível que todos eles tivessem linhas fixas, em vez disso? Haveria cobre suficiente no mundo para estender cabos até os trabalhadores mais pobres da Índia e da China que hoje usam celulares? E ele poderia ser extraído com rapidez suficiente e impacto ambiental limitado, e poderia ser usado para estender linhas a consumidores de poucas posses? Quase todas as conveniências modernas que o Ocidente considera normais terão de sofrer reengenharia para se tornarem mais baratas e melhores para uso em grande escala no mundo em desenvolvimento.

Existe uma dicotomia aqui. As economias avançadas do Ocidente não conseguem gerar empregos em parte devido à sua incapacidade de competir com a Ásia na manufatura em larga escala, e isso, por sua vez, limitou sua capacidade de escalar companhias tecnológicas voltadas para a produção.

No Oriente, o surgimento da manufatura --e, no caso da Índia, a terceirização de tecnologia da informação-- criou rendas mais altas, uma forte cultura de consumo e a necessidade de eficiência energética e de recursos. A rápida urbanização e industrialização no mundo em desenvolvimento é uma tendência irreversível. De repente, existem bilhões de consumidores na Ásia que podem aspirar ao padrão de vida das economias avançadas, e suprir essa demanda exigirá um salto gigantesco de inovação em setores como energia, química, saúde, transporte e água.

Mas os mercados emergentes estão atrasados em inovação porque seu ecossistema de empreendedorismo, instituições de educação superiores e infraestrutura de pesquisa são muito menos robustos. Principalmente, o empreendedorismo é celebrado na cultura americana. O Vale do Silício é o produto dessa cultura. Como locomotiva de inovação do mundo, o Vale do Silício deveria abrir caminho na comercialização de tecnologias revolucionárias capazes de reduzir as restrições aos recursos mundiais e reforçar a produção.

Mas as novatas devem estar perto de seus clientes, e pode-se argumentar que as novatas industriais e de tecnologia limpa do Vale do Silício foram impelidas ao sucesso porque seus verdadeiros clientes estão nos mercados emergentes. De um ponto de vista econômico, a mudança climática e a eficiência dos recursos são mais problemáticos para os países em desenvolvimento. Além disso, como demonstrou a falência de novas empresas de energia limpa americanas, a inovação que precisa ser apoiada pelos governos é difícil de sustentar.

De maneira semelhante, empreendimentos de internet ao consumidor em mercados emergentes só são capazes de copiar desajeitadamente as ideias do exterior. Embora exista uma classe média em rápido crescimento com acesso à internet na Índia e na China, os EUA ainda têm a maior e mais rica base de consumidores, o que o torna um pioneiro natural para a inovação na internet de consumo.

A internet está desafiando a hegemonia das nações. Uma nova empresa de internet em qualquer país pode alcançar consumidores em todo o mundo. Porém, o mesmo não é verdade para os empreendimentos focados na produção. A maior integração econômica os ajudarão a se globalizar mais. Para promover a inovação em setores voltados para a produção, os países precisam promover um fluxo mais livre de tecnologia, mão de obra e capital e criar instituições e leis que promovam a mesma abertura. Precisa haver uma simbiose entre talento empresarial, capital de investimento e setores que precisam de inovação transformadora. Somente então o crescimento econômico global será inclusivo e harmonioso.

RAJEEV MANTRI é presidente da firma de capital de risco Navam Capital e cofundador da Vyome Biosciences. Envie comentários para intelligence@nytimes.com.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Funcionário revela cartilha para censores do Facebook

Para o Facebook, censurar conteúdo para evitar pornografia, violência, racismo e ciberbullying, dentre outras coisas, é importante para que a rede se mantenha segura e limpa para continuar atraindo usuários e anunciantes. Esse trabalho é feito por um pequeno exército de moderadores, que trabalham por cerca de US$ 1 por hora.

Nicholas Kamm/France Presse

Página inicial do Facebook

Página inicial do Facebook

O site "Gawker" falou com um desses soldados: Amine Derkaoui, um marroquino de 21 anos. Derkaoui forneceu ao site uma cópia da cartilha de 17 páginas que o Facebook dá para os moderadores de conteúdo. O documento é basicamente um guia para que os funcionários saibam como utilizar a ferramenta para visualizar o fluxo de postagens denunciadas por usuários e o que fazer para levá-las ou não em consideração.

"Pense que é como um canal de esgoto e toda a bagunça, sujeira, resíduo e merda do fluxo é direcionada para você, e você tem que limpá-lo", disse um moderador ao "Gawker", durante conversa no Skype.

Censurar conteúdo não é fácil; em abril do ano passado, a rede foi acusada de homofobia por excluir um beijo gay. Meses antes, a remoção de um desenho nu provocou a ira do mundo da arte. Há ainda outro problema: as políticas

O "Gawker" selecionou algumas orientações do manual sobre tipos de conteúdo que podem ser sumariamente deletados:

  • Imagem clara de órgãos sexuais, mesmo que sob roupas;
  • Mães que amamentam sem roupa;
  • Brinquedos sexuais ou outros objetos, mas apenas no contexto da atividade sexual;
  • Representação de fetiches sexuais de qualquer forma;
  • Qualquer montagem feita no photoshop que envolva pessoas;
  • Imagens de pessoas bêbadas e inconscientes, ou pessoas dormindo com desenhos no rosto;
  • Discurso violento, como por exemplo, "eu adoro ouvir crânios racharem".

No capítulo sobre conteúdo de ódio, o manual orienta expressamente a banir fotos que comparam pessoas lado a lado --o irônico é que era exatamente o que fazia o FaceMesh, site de Mark Zuckerberg anterior ao Facebook.

O documento completo pode ser encontrado para consulta no Scribd, (em inglês).

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Com fotos de nudez, turma cria site em solidariedade a amiga exposta na web

“Sábado, 11 de fevereiro de 2012, 10h15. Uma amiga do peito e de peito tem sua vida digital covardemente atacada e exposta. Este blog é feito por aqueles que compartilham da sensação de impotência, mas não se curvam à caretice desses tempos!” É assim que o blog “Meu Sorriso do Gato de Alice” se descreve e convida outros a contribuírem enviando uma foto. Quem aceita a proposta manda uma imagem em que aparece com pouca ou nenhuma roupa, padrão das fotos do site.

  • Blog tem fotos enviadas por pessoas de diversas cidades

A garota que inspirou sua criação teria sido roubada e suas fotos íntimas que estavam no celular foram parar no Facebook. O blog foi um jeito que os amigos encontraram de tentar anular os danos para a vítima e sair em defesa da liberdade.

“É estranho você ter de se sentir mal por ter uma foto em que você está bonita colocada na internet. Queremos protestar contra a caretice deste que é o país do carnaval, mas que ainda é tão retrógrado e purista em algumas questões”, contou  Pedro, um dos criadores do blog, que preferiu não ter seu sobrenome divulgado. 

No ar desde o último domingo (12), “Meu Sorriso do Gato de Alice” já tem quase 60 fotos enviadas de diversas cidades, incluindo São Paulo, Rio de Janeiro, Londres e Nova York. A maioria é de amigos, mas outras pessoas já começaram a mandar suas fotos também.

As imagens geralmente contêm alguma nudez. “Mas não precisa ter sempre. A ideia é expor sua intimidade, independente de quanto você está mostrando”, explica Pedro. E não há censura. “Estamos justamente indo contra a censura e incentivando as pessoas a gostarem do seu próprio corpo. Se mandam uma foto, e ela tem esse espírito, ela é publicada”, completa.

Segundo ele, a amiga que recebeu a homenagem ficou emocionada. E o blog, criado e alimentado de forma espontânea, “deve continuar enquanto fizer sentido para o grupo”. 

Fonte: Uol Tecnologia

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

8 dicas para melhorar o seu marketing digital

Num início de ano em que as novidades sobre redes sociais e smartphones se multiplicam, as ideias e sugestões de como utilizar essas plataformas para marketing também estão por toda parte. A blogueira Carol Tice, do site da revista Entrepreneur, teve a boa ideia de filtrar, selecionar e agrupar os melhores conselhos. O resultado é uma lista com os oito itens a seguir:

1. Pergunte aos clientes. Pesquisas são sempre bem-vindas e redes como o Facebook têm aplicativos específicos para questionários instantâneos. É só saber perguntar.

2. Programe e-mails coordenados. Quando um cliente abandona o carrinho de compras no meio de uma operação em seu site de e-commerce, é porque ele esteve perto de efetuar uma aquisição. Nada melhor do que programar um email para esse cliente, com mais ofertas e informações.

3. Use mensagens de texto. Uma pergunta diretamente no celular do cliente sobre o que ele gostaria de comprar pode gerar uma oferta de desconto. Boa ideia para o público das gerações X e Y, que praticamente abandonou os emails.

4. Preencha lacunas. Observando a concorrência, pode-se deduzir como ocupar os espaços que ainda estão mais ou menos livres. Bons exemplos são redes sociais novas, como a Pinterest, canais do You Tube e até os velhos anúncios em ônibus e vagões do metrô.

5. Não fique só na web. Aproveite as redes sociais para convidar seus clientes e promover eventos coletivos, principalmente se você tiver uma sede física (uma loja, por exemplo).

6. Dê prêmios para indicações. Esta é uma estratégia antiga que pode ser turbinada com as ferramentas digitais: oferecer descontos para quem apresentar um novo cliente.

7. Concentre esforços. Mensagens demais podem confundir e irritar o cliente. Escolha o número três como limite para todos os itens, desde a repetição de texto nos posts até quantas vezes você faz um follow up.

8. Use música. Se você tem um jingle ou uma vinheta musical, compartilhe o streaming (no serviço Spotify, por exemplo).

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Anderson Silva no Xingu - O lutador foi até o Alto Xingu para aprender uma luta indígena, a huka huka

Quem disse que Anderson Silva é imbatível? O campeão do UFC foi até uma aldeia indígena no Alto Xingu para aprender uma nova luta, a huka huka, e teve que rolar na terra para segurar os guerreiros camaiurá

Anderson Silva olha fixamente pela janela do pequeno avião monomotor que acaba de parar na pista de terra. Está pensativo, sorri e sem desviar o olhar por nem um segundo diz: “Cara, que emocionante isso aqui”. Do lado de fora do avião ele vê dezenas de crianças indígenas se aproximarem correndo, com cabelos e corpos pintados de vermelho, aglomerando-se ao lado da aeronave a sua espera. Há dias anuncia-se que um grande guerreiro mundialmente conhecido chegaria à aldeia, onde ninguém sabe quem é Anderson Silva. Em silêncio, ele desembarca, dirige-se ao grande grupo de crianças e, rodeado, pergunta: “E aí, quem aqui é lutador?”. Várias levantam o braço. Ali, na terra dos índios camaiurá, às margens do rio Xingu, no Mato Grosso, luta é coisa séria. E é por isso que o campeão mundial de MMA trocou o octógono pelo chão de terra batida. Foi aprender uma luta local, o huka-huka, para descobrir se pode aplicar seus golpes em combates do UFC.

“É outra arte que vou conhecer, quero saber como eles conduzem a filosofia desse esporte”, disse ele, que aproveitou a experiência para gravar um vídeo comercial para a marca de açaí Amazoo. Logo que chega, além das crianças, Anderson também é recebido por Were. O rapaz jovem e bastante forte é respeitado por todos na aldeia. Carrega amarrado na cintura um cordão que tem pendurado na parte de trás a carcaça de um pássaro xexéu, preto e amarelo, com as asas abertas. É uma espécie de cinturão do huka-huka, só usam os lutadores campeões difíceis de derrubar. “Se eu perco um duelo, meu adversário pode arrancar esse cinturão de mim, jogar no chão e pisar em cima do pássaro. É como se eu não tivesse o direito de usar aquilo”, explica Were.

“Quero saber como eles conduzem a filosofia desse esporte”

Luís Maximiano

Anderson Silva, devidamente pintado para o combate

Sentado em um tronco de madeira ao lado de Anderson é Were quem explica as tradições do huka-huka ao campeão do UFC. Falando sempre com um tom baixo, quase sussurrando, ele conta que por volta dos 14 anos de idade os meninos passam por um confinamento que pode durar anos. Durante a reclusão, na oca, são preparados para a vida adulta e principalmente para lutar. “Nesse tempo raspamos a pele com a ranhadeira, feita com espinhas de peixe. Passamos nas costas, nas pernas, nos braços... Depois passamos algumas raízes em cima, aí arde muito. Temos que aguentar pela nossa tradição, significa força. Também tomamos algumas raízes que fazem a gente vomitar. Eu tive que provar muitas, umas dez diferentes.” No alto dos braços e nos calcanhares são amarrados barbantes para engrossar o bíceps e a batata da perna. De casa, só saem para lutar com outros índios mais experientes no centro da aldeia. “Depois voltamos ao confinamento pra ficar pensando só sobre o huka-huka.”

E como determinar o fim da reclusão? “Nós sabemos a hora. Quando vamos lutar no centro da aldeia vemos se a pessoa ganha dos mais velhos. Aí está provado que já tem força. Se vier e perder tem que voltar pro confinamento, continuar com a ranhadeira, ficar pensando na luta, tentando conversar com os espíritos.” Were, no caso, precisou “só de um ano e meio” para ser liberado e se tornar um campeão. Agora ele terá a oportunidade de ensinar suas técnicas a outro vencedor dos ringues. E, por que não, poderá aprender algo também, para nunca perder a honraria do pássaro xexéu na cintura. Basta seguir vencendo, principalmente durante o Kuarup, festa de homenagem aos parentes mortos, na qual o huka-huka é uma das grandes atrações.

Preparado pra apanhar

Mas, antes que qualquer combate levante a fina terra que cobre o chão da aldeia, Anderson precisa ser devidamente pintado e preparado. Dois índios estampam bolas pretas e vermelhas em todo seu tórax. “É a pintura da onça, todo lutador tem que ter”, explica um deles. Em seus joelhos são amarrados grossos panos, já que no huka-huka essa parte do corpo quase sempre está em contato com o solo. Na cintura vai uma tira de pele de onça e no pescoço, um colar de placas de caramujos (pedaços lixados do casco), outro adereço exclusivo de guerreiros. Quase pronto, Anderson assume: “Estou um pouco tenso. Tenho certeza de que vou ser jogado pra lá e pra cá”.

Tarde demais para considerar a real possibilidade. Uma roda está formada no centro da aldeia à espera do campeão do UFC. A maioria dos índios nem sequer dormiu a última noite. É tradição para eles: em madrugadas que antecedem dias de luta não se prega o olho. “Ficamos na concentração pensando na luta até amanhecer o dia. Lá pelas quatro da manhã passamos óleo de pequi no corpo pra aquecer e massagear os músculos e pra evitar que o outro consiga te agarrar”, explica Were. Uma rápida demonstração de como funciona o huka-huka é feita para Anderson. Explica-se que a luta começa com os dois ajoelhados, segurando na nuca ou nos braços um do outro. Para vencer é preciso derrubar o adversário de costas, de peito ou agarrar a parte de trás da coxa. Aparentemente simples. Preparado, Anderson? “Sim. Preparado pra apanhar!”

“Estou um pouco tenso. Tenho certeza de que vou ser jogado pra lá e pra cá”

Luís Maximiano

O desafiante já está no meio da roda à espera. Os dois pegam um punhado de terra no chão e esfregam na palma das mãos. A luta começa – e não dura nem 15 segundos até o campeão de MMA estar caído de costas no solo. Foi só levantar e outro índio já estava pronto para um próximo combate. E pensar que na noite anterior Anderson havia dito que não lutaria, que seria apenas uma troca de experiências. Balela, os índios não iam perder essa oportunidade. A segunda luta também foi rápida, questão de segundos até a nova derrota do discípulo de Steven Seagal. Quando o terceiro indígena pediu a vez Anderson não se conteve: “Espera aí! Já apanhei demais! Agora vamos lutar na minha regra”. “E como é?”, pergunta um deles. “É um pouco mais violenta que a de vocês. Quando o oponente está no chão nós podemos continuar batendo. Ou podemos imobilizar também”, respondeu.

Pronto, não perdeu nenhuma das lutas seguintes – mesmo sem disparar nenhum de seus potentes chutes ou socos contra os índios. Resolveu com chaves de braço, finalizações ou simplesmente cansando o adversário até ele pedir pra parar, como aconteceu no largo combate com Were. Bufando, depois de minutos rolando na terra, o campeão do huka-huka ainda foi pedir pra que Anderson o ensinasse um movimento que havia feito durante a peleja. Calmamente a técnica foi explicada diversas vezes. “É um triângulo de mão. Uma técnica boa, eficaz. Espero que eles consigam usar no tipo de luta que fazem, que é quase semelhante ao estilo de solo do MMA”, disse o professor.

Luís Maximiano

Anderson em luta com o campeão de huka-huka Were, que carrega como cinturão um pássaro Xexéu na cintura

Anderson em luta com o campeão de huka-huka Were, que carrega como cinturão um pássaro Xexéu na cintura

Cabeça paraquedas

Anderson, aliás, está acostumado a ensinar. Em sua casa a luta é passada de pai pra filho (são três meninos e duas meninas), assim como acontece no huka-huka. “É tradição dentro da família. Todos eles têm que treinar, têm que se formar faixa preta, saber arte marcial. Sempre que estamos juntos dou treino, tento passar a filosofia da luta. Valorizo muito isso. Aqui na aldeia, achei muito interessante a forma como eles conduzem o huka-huka, os preparativos e as tradições.” Mais um aprendizado para sua já extensa lista de artes marciais, que inclui jiu-jítsu, tae kwon do, boxe, wing chun e boxe tailandês.

Da rápida passagem pela arena dos camaiurá, Anderson saiu com duas coisas na cabeça: uma leve dor – “Numa luta alguém me jogou de cabeça no chão!” – e a sensação de ter agregado mais do que algumas técnicas – “Toda experiência em que absorvemos algo é boa. A pessoa que tem a mente aberta pra novos conhecimentos sempre consegue aprender novas coisas. Eu tenho a possibilidade de treinar com pessoas de diversos países, de várias modalidades... Tento juntar tudo e criar meu próprio estilo, onde me sinto mais confortável.” –, e finaliza com a frase que repetiu diversas vezes na aldeia: “A mente tem que ser igual a um paraquedas: sempre aberta”.

Fonte. Revista Trip

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Há 15 anos, música brasileira perdia Chico Science

Há exatos 15 anos, no dia 2 de fevereiro de 1997, se calava uma das vozes mais brilhantes da música brasileira. Enquanto dirigia de Olinda para Recife, Chico Sciente, que liderava o grupo Nação Zumbi, perdeu o controle do Fiat Uno que dirigia, se chocou contra um poste e morreu, aos 30 anos.
Porém, os pouco mais de sete anos em que esteve na ativa foram suficientes para que Francisco de Assis França, como era seu nome de batismo, causasse uma revolução na música brasileira e recolocasse Pernambuco no mapa cultural do país.

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O início da virada começou quando, junto com Fred Zero Quatro, da banda Mundo Livre S/A, lançou o manifesto Caranguejos com cérebro. O texto foi o pontapé inicial do movimento manguebeat, que misturava ritmos regionais como o maracatu ao rock e a música eletrônica. A iniciativa chamou não só a atenção de gravadoras como a Sony e a Virgin, como do Brasil inteiro.
A banda que mais se destacou foi a Nação Zumbi. O grupo fez três shows em Belo Horizonte e São Paulo e se projetou para a mídia nacional. Lançado em 1994, Da lama ao caos até hoje é exaltado como um dos melhores discos brasileiros de todos os tempos e projetou o grupo. O álbum trazia músicas como Samba Makossa, Rios, pontes & overdrives, A cidade e a faixa que lhe deu título. Logo Chico Science era o porta-voz de toda uma geração e um dos responsáveis por renovar o rock nacional, junto de bandas como Planet Hemp, Raimundos, Skank e O Rappa.
Afrociberdelia, de 1996, trouxe Manguetown, Macô e Maracatu atômico  e levou a Nação Zumbi a excursionar pelo país. Mas Chico aproveitou pouco o sucesso de seu segundo rebento, lançado em junho, já que, cerca de sete meses depois, aconteceu o acidente que lhe tirou a vida.


LEGADO


A morte de Chico Science, claro, enfraqueceu bastante a cena musical do Recife. Sem seu rosto mais conhecido, as bandas pernambucanas enfrentaram dificuldades e chegou até a se cogitar o fim da Nação Zumbi.
Mas a banda resistiu à morte do seu líder, promoveu Jorge du Peixe para o vocal e segue na ativa, fazendo shows e lançando bons discos, como Rádio S.Amb.A., de 2000 e Fome de Tudo, de 2007. O Mundo Livre S/A também continua produtivo e lançou em 2011 o disco Novas Lendas da Etnia Toshi Babaa. O grupo perdeu em 1996 o percussionista Otto, que se lançou em carreira solo e tem um trabalho relevante, lançando em 2009 o álbum Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos.


E bandas como Mombojó, Eddie, Nuda e Cordel do Fogo Encantado e artistas como China, Lirinha e Karina Buhr fecham a conta do legado de Chico Science.  Com público no Brasil inteiro, carreiras sólidas e relevância musical, estre grupos comprovam que o som feito em Pernambuco continua forte e que a missão de abrir caminhos rumo ao resto do país foi cumprida com louvor por Chico Science.