O crescimento do desemprego e a disparidade de renda abalaram democracias em todo o mundo ocidental no ano passado. O desemprego entre os jovens, em particular, foi persistente e abrangente --os Estados Unidos tiveram o maior desemprego de jovens em 2011, e ele alcançou 45% na Espanha. A criação de empregos sofreu não apenas por causa do excesso de dívida. Economias avançadas viram uma maciça erosão na manufatura, e as novas empresas se concentraram demais em promover o consumo.
As companhias de internet brotaram no Vale do Silício graças ao baixo custo e à facilidade de criar produtos para a web. Elas conseguem ter uma escala global enquanto mantêm uma folha de funcionários relativamente baixa. O ano de 2011 foi um marco para as empresas da internet, e várias novatas abriram seu capital, levantando mais de US$ 3,5 bilhões no melhor ano de ofertas públicas iniciais desde 2000. Entre elas, LinkedIn, Zynga, Groupon e Renren, uma rede social chinesa. E o Facebook recentemente protocolou uma oferta inicial de ações no montante de US$ 5 bilhões.
No entanto, essas empresas prosperam incentivando o consumo, seja através de jogos, de redes sociais ou de compras em grupo com desconto.
Em comparação, os setores tecnológicos voltados para a produção em tratamentos de saúde, materiais avançados e energia tiveram sucesso limitado nos EUA. A maioria dos investimentos em tecnologia limpa absorveu capital e ainda não deu retornos aos investidores. Muitos que conseguiram crescer ainda não são muito rentáveis. O sucesso das novas empresas da internet voltadas para o consumo deixou para trás os investimentos em produção.
Ruth Fremson/The New York Times
Jornalistas falam em Nova Déli; em alguns países, os celulares tornaram a falta de telefones fixos irrelevante
É a tecnologia que garante um crescimento equitativo. Pense nos telefones celulares: existem mais de 5 bilhões de usuários em todo o mundo.
Seria possível que todos eles tivessem linhas fixas, em vez disso? Haveria cobre suficiente no mundo para estender cabos até os trabalhadores mais pobres da Índia e da China que hoje usam celulares? E ele poderia ser extraído com rapidez suficiente e impacto ambiental limitado, e poderia ser usado para estender linhas a consumidores de poucas posses? Quase todas as conveniências modernas que o Ocidente considera normais terão de sofrer reengenharia para se tornarem mais baratas e melhores para uso em grande escala no mundo em desenvolvimento.
Existe uma dicotomia aqui. As economias avançadas do Ocidente não conseguem gerar empregos em parte devido à sua incapacidade de competir com a Ásia na manufatura em larga escala, e isso, por sua vez, limitou sua capacidade de escalar companhias tecnológicas voltadas para a produção.
No Oriente, o surgimento da manufatura --e, no caso da Índia, a terceirização de tecnologia da informação-- criou rendas mais altas, uma forte cultura de consumo e a necessidade de eficiência energética e de recursos. A rápida urbanização e industrialização no mundo em desenvolvimento é uma tendência irreversível. De repente, existem bilhões de consumidores na Ásia que podem aspirar ao padrão de vida das economias avançadas, e suprir essa demanda exigirá um salto gigantesco de inovação em setores como energia, química, saúde, transporte e água.
Mas os mercados emergentes estão atrasados em inovação porque seu ecossistema de empreendedorismo, instituições de educação superiores e infraestrutura de pesquisa são muito menos robustos. Principalmente, o empreendedorismo é celebrado na cultura americana. O Vale do Silício é o produto dessa cultura. Como locomotiva de inovação do mundo, o Vale do Silício deveria abrir caminho na comercialização de tecnologias revolucionárias capazes de reduzir as restrições aos recursos mundiais e reforçar a produção.
Mas as novatas devem estar perto de seus clientes, e pode-se argumentar que as novatas industriais e de tecnologia limpa do Vale do Silício foram impelidas ao sucesso porque seus verdadeiros clientes estão nos mercados emergentes. De um ponto de vista econômico, a mudança climática e a eficiência dos recursos são mais problemáticos para os países em desenvolvimento. Além disso, como demonstrou a falência de novas empresas de energia limpa americanas, a inovação que precisa ser apoiada pelos governos é difícil de sustentar.
De maneira semelhante, empreendimentos de internet ao consumidor em mercados emergentes só são capazes de copiar desajeitadamente as ideias do exterior. Embora exista uma classe média em rápido crescimento com acesso à internet na Índia e na China, os EUA ainda têm a maior e mais rica base de consumidores, o que o torna um pioneiro natural para a inovação na internet de consumo.
A internet está desafiando a hegemonia das nações. Uma nova empresa de internet em qualquer país pode alcançar consumidores em todo o mundo. Porém, o mesmo não é verdade para os empreendimentos focados na produção. A maior integração econômica os ajudarão a se globalizar mais. Para promover a inovação em setores voltados para a produção, os países precisam promover um fluxo mais livre de tecnologia, mão de obra e capital e criar instituições e leis que promovam a mesma abertura. Precisa haver uma simbiose entre talento empresarial, capital de investimento e setores que precisam de inovação transformadora. Somente então o crescimento econômico global será inclusivo e harmonioso.
RAJEEV MANTRI é presidente da firma de capital de risco Navam Capital e cofundador da Vyome Biosciences. Envie comentários para intelligence@nytimes.com.
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