Mário Lago nasceu no bairro da Lapa, berço da boemia carioca, no dia 26 de novembro de 1911. Viveu a época de ouro do samba e do florescimento da cultura popular brasileira no início do século XX. Foi ator, escritor, jornalista, compositor, dramaturgo, poeta e militante político. Um homem de vários atos.
Teatro e Televisão
Ao mesmo tempo em que se dedicava à música e ao rádio, Mário Lago também assumiu sua vocação de artista popular ao escrever para o teatro de revista. De acordo com a historiadora Monica Velloso, as peças de Mário eram consideradas "popularescas" e de "baixo nível" por causa do seu conteúdo cômico e improvisado, em uma época em que a rígida crítica teatral distinguia o teatro "sério e erudito" do teatro "baixo e popular". Mário escreveu cerca de 40 peças entre os anos 1930 e 1970. Na década de 1960, ele levou suas experiências no teatro e no rádio para a televisão.
Sua estreia ocorreu em 1963, na série "Nuvem de Fogo" em 1966, Mário Lago fez sua primeira novela, "Sheik de Agadir" da Rede Globo. Entre novelas, séries e minisséries, Mário participou de mais de 90 produções para TV. Sua última atuação foi na novela "O Clone", da TV Globo em 2001.
Música
Oriundo de uma família de músicos, Mário Lago teve contato com a música ainda na infância, durante as aulas de piano com Lucília Villa-Lobos. Mas na adolescência, abandonou os instrumentos clássicos para se dedicar ao samba. Assim como Noel Rosa, Ari Barroso e João de Barro, Mário faria parte de um grupo de jovens de classe média do Rio de Janeiro a formar parcerias com músicos populares. Entre as décadas de 1920 e 1930, passou a compor sambas e marchinhas de carnaval, como "Aurora" e "Ai, que saudades da Amélia", famosas até hoje.
Segundo Monica Velloso, autora da biografia "Mário Lago: boemia e política", Mário costumava dizer que se inspirava na vida, na boemia e na sua amizade com as prostitutas, verdadeiras contadoras de histórias. As prostitutas representavam a arte "de saber viver a vida". A partir da década de 1940, o jovem músico começou a trabalhar como ator e produtor de rádio. Foi roteirista da radionovela "Presídio de Mulheres", sucesso de audiência da Rádio Nacional na década de 1950.
Cinema
Além do rádio, do teatro e da TV, Mário Lago também se aventurou no cinema, atuando e escrevendo em várias produções entre as décadas de 190 e 1980. Apesar do currículo extenso nas telonas, o cinema não era uma das suas áreas preferidas. Conta a historiadora Monica Velloso: "Em uma de nossas entrevistas para a biografia, Mário disse certa vez que gostava mais de fazer TV, pois cinema tinha ritmo muito lento. Além de atuar, outra grande paixão dele era a música."
Mário Lago atuou em filmes como "Terra em Transe", de Glauber Rocha (1967), "O Padre e a Moça", de Joaquim Pedro de Andrade (1966) e "São Bernardo", de Leon Hirszman (1972).
Literatura
Mário Lago gostava de dedicar parte do seu tempo à literatura. O primeiro livro, "O Povo Escreve a História nas Paredes", de 1948, reunia poemas de cunho político e histórico. Durante a vida, Mário escreveria outros 11 livros, a maioria como tema principal a memória. "O Mário não se limitava a contar as próprias lembranças. Ele gostava de escrever sobre as memórias do seu país e da sua cidade, o Rio de Janeiro". revela Monica Velloso.
Atuação Política
Além da arte, Mário Lago vivia em intensa atividade política. Durante a época da faculdade, na década de 1930 (ele se formou em Direito, mas nunca exerceu a profissão) aproximou-se do Partido Comunista.
Em 1957, chegou a viajar para a União Soviética a convite da Rádio Moscou. No entanto, esse vínculo lhe rendeu algumas prisões durante o governo de Getúlio Vargas e na ditadura militar.
Segundo Monica Velloso, Mário "sobreviveu" a duas ditaduras porque ele 'interpretava' o tempo todo. "Ele contava que, graças as suas habilidades artísticas, era bem sucedido nos interrogatórios promovidos pelos militares. Foi o seu talento de ator e sua rapidez ao responder as perguntas que o salvaram dos momentos difíceis", revela a historiadora. Mário Lago atuou em várias campanhas políticas, como as Diretas Já. Com a volta da democracia no fim da década de 1980, passou a apoiar o PT nas eleições.
estadão.com.br
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